São Vicente e os desafios das emergências climáticas
![]() | ![]() | Adriel Fernandes Passos Neto, Arquiteto e Urbanista, pós graduado em Gestão Ambiental, Servidor Público e Conselheiro Suplente no Conselho de Arquitetura e Urbanismo CAU SP Gestão 2024 – 2026 |
Os últimos eventos climáticos têm provocado mudanças drásticas nos territórios e vem gerando muitas incertezas. Bairros e até cidades inteiras tem sido tragados pelas enxurradas e seus moradores não sabem se essas localidades poderão ser reocupadas com segurança.
Em São Vicente ocorrem vários transtornos causados por essas alterações há algum tempo, como alagamentos, mesmo em dias sem chuva, que tem sido constantes nos bairros Catiapoã e Jóquei Clube, entre muitos. A impermeabilização do solo, a baixa quantidade de vegetação urbana, as ocupações irregulares dos manguezais e diques e o acúmulo de lixo nas ruas contribuem para esse cenário caótico que gera imensos prejuízos à cidade e seus moradores. Junto a isso, áreas que até pouco tempo eram permeáveis, são agora ocupadas por construções onde os empreendedores barganham o máximo espaço a ser edificado, restando pouca ou nenhuma superfície para a absorção das águas das chuvas e o escoamento da maré.
Diante de toda essa problemática, a destinação de duas áreas de grandes proporções localizadas na Área Insular merece a atenção do Poder Público e da população: o Golf Club (no Catiapoã) e o Jockey Club. Ambos os clubes foram criados na primeira metade do século 20 e, com o passar das décadas, houve a redução significativa de seus sócios pagantes e a dificuldade de manter seus custos. Então, a fragmentação de seus terrenos tem sido a saída encontrada para sanar os desafios financeiros para a sobrevivência dessas agremiações. No entanto, é primordial ficar atento ao equilíbrio entre a especulação imobiliária e o desenvolvimento sustentável da cidade. Ambas as áreas somam centenas de milhares de metros quadrados e até hoje são duas das principais responsáveis pela drenagem e absorção das águas nos bairros onde estão inseridas. A ocupação indiscriminada e sem critérios técnicos desses lugares por edificações e asfalto certamente trará maiores prejuízos à região, pois, com essas superfícies ainda mais impermeabilizadas, maiores serão os riscos de inundações por falta de escoamento adequado das águas pluviais.
Desta forma, é imprescindível a discussão pelos diversos segmentos da sociedade para que sejam encontradas soluções que não travem o desenvolvimento sadio e sustentável do município e, principalmente, evitem tragédias ambientais como temos visto neste ano de 2024. Propostas como Parques Permeáveis, além de amenizar as consequências das fortes chuvas e altas da maré, trazem benefícios ao microclima e valorização da região. Vastos estudos científicos apontam que as áreas verdes urbanas proporcionam bem estar, saúde mental, redução de estresse e até a diminuição dos índices de violência, principalmente aos moradores de seu entorno.

Por consequência, este é o momento em que ações responsáveis quanto à destinação destas duas imponentes áreas, junto com eficientes obras de macrodrenagem e uma ampla campanha de Educação Ambiental de nossa população, entre outras medidas, irão determinar se São Vicente será capaz de mitigar os efeitos das mudanças climáticas nesta e nas próximas décadas ou se amargará ainda mais com a tomada de decisões equivocadas.
Adriel Fernandes Passos Neto, arquiteto e urbanista, servidor público e conselheiro suplente no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU SP) gestão 2024 – 2026.